Tinha ate nome o negocio e fazia parte da minha tentativa de entender o rock como historia de estruturas e nao um monte de bandinhas tacadas no decorrer do tempo. E entender como estrutura nao significa entender apenas no campo da musica, mas entender principalmente porque a musica ficou desse jeito e levou a certos comportamentos.
O Eric Hobsbawn, historiador preferido da minha professora de cinema tem um livro assim sobre o Jazz. É um livro dificil, mas quando voce le, tudo comeca a fazer sentido. O rock, pelo que eu sei, nao tem nenhum livro nesse sentido.
E eu gostaria de entender melhor. Porque, se estou falando sobre quebra de estruturas, tenho que considerar que o rock é a quebra de estrutura na tala. Veja o que diz Jim Morrison. Veja o que fizeram os Doors. Veja Lou Reed na contracapa de Transformer, endossando a Revolucao Sexual. Mas todo esse povo soh fez isso porque teve acesso a um abertura efetuada quinze anos antes.
Porque se a gente considerar que rock é, na raiz, musica de negros (apesar do Alan Fred ser branco, ela é de negros) e se considerarmos que havia um regime tipo apartheid social naquele periodo, entao dá pra sacar que ao fazer sucesso, o rock trouxe o negro ao branco, coisa que o Jazz nao conseguiu fazer, porque, enquanto popular, se restringia a população negra, majoritariamente.
E isso está no rosto de Elvis Presley (um branco com voz e jeito de negro, como queria o dono da Sun Records, Sam Phillips, o homem que ficou rico ao levar Elvis para o showbiz).
Cena mais libertaria que a do rock, portanto, que comecou a se libertar vencendo preconceitos raciais e acabou como trilha sonora de movimentos totalmente contestadores (beats, hippies, Woodstock te lembram algo ? Rock, lsd e sexo), só mesmo a cena clubber.
Mas é que esta só conseguiu acabar com todos os preconceitos sexuais da sociedade, ao menos dentro de onde se realiza, porque o rock já estava indo neste sentido. Uma das proximas revolucoes musicais que surgir vai embarcar a quebra total de PRE-conceitos. Vai tornar barreiras, hoje invisiveis no mundo ocidental em sua grande parte, inexistentes. É só esperar pra ver. Alias, do jeito que esta cena clubber é nova, nao duvido que daqui a algum tempo surja gente mais contestadora dentro dela, e quem sabe aih, ela mesmo nao embarque nesta revolucao.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Techno e perconceitos
Ontem estava pensando nesse negócio da cena clubber ajudar a libertar os preconceitos que existem na sociedade, mas cheguei a uma conclusão complicada. A cena clubber é glam desde o principio. É cara. É elitista. Voce pode até argumentar que alguns djs sairam das favelas e foram tocar em Londres, mas isto é excessao e nao diz respeito ao público-alvo.
Techno nao toca em favela. Rádios nao tocam tecno. Ou seja, se a cena clubber quebrar mais alguns paradigmas sociais, nao será aqui no Brasil em que isso vai ter início. Vamos receber as mudanças 10 anos depois delas terem sido realizadas lá fora. Como sempre. Aliás, neste sentido de receber o que é feito lá fora dez anos depois como novidade, mas ao mesmo tempo ter gente aqui dentro fazendo o que os gringos estao simultaneamente, Marky Mark me lembra Mutantes.
Techno nao toca em favela. Rádios nao tocam tecno. Ou seja, se a cena clubber quebrar mais alguns paradigmas sociais, nao será aqui no Brasil em que isso vai ter início. Vamos receber as mudanças 10 anos depois delas terem sido realizadas lá fora. Como sempre. Aliás, neste sentido de receber o que é feito lá fora dez anos depois como novidade, mas ao mesmo tempo ter gente aqui dentro fazendo o que os gringos estao simultaneamente, Marky Mark me lembra Mutantes.
sábado, 17 de janeiro de 2009
História da Guitarra - Folk/Rock Music - n° 1
Faz tempo que não postava sobre música... e foi totalmente involuntário. No começo do blog, pensei em não fazer nenhum post específico sobre guitarras; mas umas horas de papo com meu velho camarada Marcio me convenceram de postar isso aqui - não liguem para a megalomania do título - eu sou palhaço, sempre!!! Risos... pena que ninguém vai ler, porque ficou grande paca:
Um dos grandes fascínios instantâneos que a guitarra me proporcionou veio do então guitarrista do The Byrds, Clarence J. White. Sempre gostei muito do The Byrds, desde sua primeira fase, comandada pela maravilhosa Rickenbacker de 12 cordas de Roger McGuinn, e pela voz de David Crosby, que depois se juntaria a Graham Nash e Stephen Stills para formar o lendário Crosby, Stills & Nash - que no segundo disco já teria mais um sobrenome incluído - o de ninguém menos que Neil Young. Na segunda fase do The Byrds, muito embora as 12 cordas da guitarra de McGuinn ainda fizessem bonito, era Clarence White que moldava agora o som da banda, com sua Telecaster e suas frases de pedal steel. Eu já tocava guitarra há algum tempo, e ficava abismado com a impossibilidade de executar suas frases. Era impressionante como soavam exatamente como um pedal steel.
Só muito tempo depois fui descobrir o segredo de Clarence: tratava-se do "B-Bender", ou "string-bender". Uma invenção do multi-instrumentista, luthier e mecânico de motocicletas Gene Parsons. Parsons ainda instala B-Benders por encomenda, cobrando aproximadamente 900 dólares para isso, em sua oficina em Caspar, Califórnia. O sistema é tão funcional e bem desenvolvido que a Fender, uma das maiores, senão a maior fábrica de guitarras do mundo, utiliza o sistema Parsons-Green quando vai instalar o B-Bender em suas guitarras.
Parsons inventou uma maneira de fazer a segunda corda da guitarra ser esticada, característica alcançada pelo uso dos pedais do pedal steel: a variação de até um tom acima da nota tocada. O sistema funciona da seguinte maneira: o pino onde a correia (aquela faixa de couro onde "penduramos" a guitarra, para tocarmos de pé) fica presa é móvel. Você força a guitarra para baixo, e a correia puxa o pino, que vai ativar um sistema de molas, que por sua vez estica a segunda corda. Realmente é um pouco incômodo, pois obriga o guitarrista a não se mover muito. Um movimento do ombro onde está repousada a correia para cima pode puxar o pino, e fazer o B-Bender funcionar numa hora errada... péssimo. É difícil explicar essa geringonça com palavras, então segue aí uma foto de uma Fender Telecaster alterada para receber o B-Bender, vista pela frente e por trás.
Já tentei tocar numa guitarra com o B-Bender: é outro instrumento. Teria que reaprender a tocar, com certeza. Qualquer movimento já faz a segunda corda sofrer um pouco da ação do sistema, e é difícil controlar o quanto você puxa para obter um som certinho, sem semitonar a nota. Depende de muita prática. Mas o efeito, quando bem utilizado, é sensacional: realmente a guitarra soa como um pedal steel. Por exemplo, aqui nessa frase você percebe isso com clareza. Esse outro, utilizando harmônicos, dá um resultado muito interessante também. Você pode ouvir vários outros licks usando o B-Bender aqui.
Clarence White atinge seu auge no arrebatador disco "Sweetheart Of The Rodeo", com vários solos de B-Bender sensacionais, em músicas como "The Christian Life" e "One Hundred Years From Now". Um outro grande exemplo é "You Ain't Going Nowhere" de Bob Dylan. Essa música até tem uma história curiosa: Roger McGuinn erra a letra em "pick up your money / and pack up your tent / you ain't going nowhere" - ele canta "pack up your money / pull up your tent". A sarcástica resposta de Bob Dylan veio numa regravação da música: "pack up your money / pull up your tent / McGuinn, you ain't going nowhere!"
Uma banda que também faz ótimo uso de B-Benders é o Hellecasters. Som mais moderno, guitarras com mais efeitos. São três guitarristas: Will Ray, John Jorg e o classudo Jerry Donahue. O mais impressionante desse grupo é a perfeição do tempo: os três tocam simultaneamente quase todos os solos - e assustam pela precisão absoluta desse "simultaneamente". Técnica extrema - às vezes fica faltando um pouquinho de feeling, alma mesmo - chega a beirar a farofa. Mas é muito bom, principalmente em músicas como "Axe To Grind", "Mad Cows At Ease" e a ótima versão do tema de "Inspector Gadget", o Inspetor Bugiganga - lembram dele? Risos...
É bom lembrar que tudo isso nasceu de Chet Atkins, o pai desse tipo de guitarra. Com suas guitarras semi-acústicas e pegada mais "jazzy", tocando à frente de sua big band, Chet Atkins, o "Mister Guitar", foi o criador da grande maioria dos fraseados usados pelos guitarristas de country-rock, como os Hellecasters, trazendo muita coisa do banjo para a guitarra. Você pode ver um pequeno vídeo de Chet em 1958. Outros guitarristas que também beberam da fonte de Atkins foram Albert Lee, que tocou muitos anos com Eric Clapton, e Mark Knopfler, que demonstra essa influência mais claramente no primeiro (e, por sinal, o melhor) álbum do Dire Straits, de 1978, em músicas como "Southbound Again" e "Setting Me Up".
A situação é bem parecida: lá existe Clarence White e Chet Atkins, mas quem faz sucesso é Shania Twain; aqui, existe Quinteto Violado, Ivan Vilela, Helena Meirelles... e quem faz sucesso é Chitãozinho, Xororó, Daniel, Zezé Di Camargo, Luciano e outras peças. Fazer o quê, né? Bola pra frente. Deixemos de lado o famigerado "cáuntrim" e vamos ouvir o velho e bom folk. Deixemos de lado o "sertanojo", e vamos ouvir música caipira. Sozinhos, mas satisfeitos. E sem fazer alarde por isso. Pra quê?
Um dos grandes fascínios instantâneos que a guitarra me proporcionou veio do então guitarrista do The Byrds, Clarence J. White. Sempre gostei muito do The Byrds, desde sua primeira fase, comandada pela maravilhosa Rickenbacker de 12 cordas de Roger McGuinn, e pela voz de David Crosby, que depois se juntaria a Graham Nash e Stephen Stills para formar o lendário Crosby, Stills & Nash - que no segundo disco já teria mais um sobrenome incluído - o de ninguém menos que Neil Young. Na segunda fase do The Byrds, muito embora as 12 cordas da guitarra de McGuinn ainda fizessem bonito, era Clarence White que moldava agora o som da banda, com sua Telecaster e suas frases de pedal steel. Eu já tocava guitarra há algum tempo, e ficava abismado com a impossibilidade de executar suas frases. Era impressionante como soavam exatamente como um pedal steel.
Só muito tempo depois fui descobrir o segredo de Clarence: tratava-se do "B-Bender", ou "string-bender". Uma invenção do multi-instrumentista, luthier e mecânico de motocicletas Gene Parsons. Parsons ainda instala B-Benders por encomenda, cobrando aproximadamente 900 dólares para isso, em sua oficina em Caspar, Califórnia. O sistema é tão funcional e bem desenvolvido que a Fender, uma das maiores, senão a maior fábrica de guitarras do mundo, utiliza o sistema Parsons-Green quando vai instalar o B-Bender em suas guitarras.
Parsons inventou uma maneira de fazer a segunda corda da guitarra ser esticada, característica alcançada pelo uso dos pedais do pedal steel: a variação de até um tom acima da nota tocada. O sistema funciona da seguinte maneira: o pino onde a correia (aquela faixa de couro onde "penduramos" a guitarra, para tocarmos de pé) fica presa é móvel. Você força a guitarra para baixo, e a correia puxa o pino, que vai ativar um sistema de molas, que por sua vez estica a segunda corda. Realmente é um pouco incômodo, pois obriga o guitarrista a não se mover muito. Um movimento do ombro onde está repousada a correia para cima pode puxar o pino, e fazer o B-Bender funcionar numa hora errada... péssimo. É difícil explicar essa geringonça com palavras, então segue aí uma foto de uma Fender Telecaster alterada para receber o B-Bender, vista pela frente e por trás.
Já tentei tocar numa guitarra com o B-Bender: é outro instrumento. Teria que reaprender a tocar, com certeza. Qualquer movimento já faz a segunda corda sofrer um pouco da ação do sistema, e é difícil controlar o quanto você puxa para obter um som certinho, sem semitonar a nota. Depende de muita prática. Mas o efeito, quando bem utilizado, é sensacional: realmente a guitarra soa como um pedal steel. Por exemplo, aqui nessa frase você percebe isso com clareza. Esse outro, utilizando harmônicos, dá um resultado muito interessante também. Você pode ouvir vários outros licks usando o B-Bender aqui.
Clarence White atinge seu auge no arrebatador disco "Sweetheart Of The Rodeo", com vários solos de B-Bender sensacionais, em músicas como "The Christian Life" e "One Hundred Years From Now". Um outro grande exemplo é "You Ain't Going Nowhere" de Bob Dylan. Essa música até tem uma história curiosa: Roger McGuinn erra a letra em "pick up your money / and pack up your tent / you ain't going nowhere" - ele canta "pack up your money / pull up your tent". A sarcástica resposta de Bob Dylan veio numa regravação da música: "pack up your money / pull up your tent / McGuinn, you ain't going nowhere!"
Uma banda que também faz ótimo uso de B-Benders é o Hellecasters. Som mais moderno, guitarras com mais efeitos. São três guitarristas: Will Ray, John Jorg e o classudo Jerry Donahue. O mais impressionante desse grupo é a perfeição do tempo: os três tocam simultaneamente quase todos os solos - e assustam pela precisão absoluta desse "simultaneamente". Técnica extrema - às vezes fica faltando um pouquinho de feeling, alma mesmo - chega a beirar a farofa. Mas é muito bom, principalmente em músicas como "Axe To Grind", "Mad Cows At Ease" e a ótima versão do tema de "Inspector Gadget", o Inspetor Bugiganga - lembram dele? Risos...
É bom lembrar que tudo isso nasceu de Chet Atkins, o pai desse tipo de guitarra. Com suas guitarras semi-acústicas e pegada mais "jazzy", tocando à frente de sua big band, Chet Atkins, o "Mister Guitar", foi o criador da grande maioria dos fraseados usados pelos guitarristas de country-rock, como os Hellecasters, trazendo muita coisa do banjo para a guitarra. Você pode ver um pequeno vídeo de Chet em 1958. Outros guitarristas que também beberam da fonte de Atkins foram Albert Lee, que tocou muitos anos com Eric Clapton, e Mark Knopfler, que demonstra essa influência mais claramente no primeiro (e, por sinal, o melhor) álbum do Dire Straits, de 1978, em músicas como "Southbound Again" e "Setting Me Up".
A situação é bem parecida: lá existe Clarence White e Chet Atkins, mas quem faz sucesso é Shania Twain; aqui, existe Quinteto Violado, Ivan Vilela, Helena Meirelles... e quem faz sucesso é Chitãozinho, Xororó, Daniel, Zezé Di Camargo, Luciano e outras peças. Fazer o quê, né? Bola pra frente. Deixemos de lado o famigerado "cáuntrim" e vamos ouvir o velho e bom folk. Deixemos de lado o "sertanojo", e vamos ouvir música caipira. Sozinhos, mas satisfeitos. E sem fazer alarde por isso. Pra quê?
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Zezé Di Camargo
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Hendrix o maior músico de todos os tempos
Hendrix é, com absoluta certeza, meu ídolo maior na música. E talvez seja exatamente por isso que eu ainda não tenha colocado nada sobre ele aqui no blog, a não ser algumas imagens. Já tentei postar algo sobre ele diversas vezes; mas sempre que termino de escrever, paro pra reler tudo e... vai pro lixo. É engraçado como as palavras se tornam pequenas nesses momentos. Eu invariavelmente acabo por achar que o que escrevi não demonstra 10% do que eu penso e sinto. E a única outra opção contra esse "post perfeito" - que nunca chega - seria abrir um blog para falar exclusivamente de Hendrix. Não dá pra falar em poucas linhas de como ele viveu à frente de seu tempo, e como ele continua muito à frente dos tempos atuais; nem de suas músicas em sua meteórica carreira de poucos discos, assim como não há como escolher uma só música; nem como sua imagem de "show-man" (o cara que tocava com os dentes, atrás do pescoço, entre as pernas, e ateava fogo às suas guitarras) atrapalhou musicalmente sua carreira, onde as pessoas se interessavam mais por esse tipo de truques do que por sua música; nem das intermináveis discussões sobre "o que ele estaria tocando se estivesse vivo hoje"; nem de como é impressionante o fato que ninguém até hoje (ninguém mesmo) consegue fazer o que ele fazia há 30 anos atrás, com o mínimo de tecnologia que existia na época; nem da beleza de algumas de suas letras, terreno totalmente subvalorizado... assim como mais mil coisas sobre as quais não dá pra se falar nem nesse resumo que estou tentando fazer agora.
Difícil mesmo é domar as palavras na hora em que elas se fazem mais importantes que todo o resto.
Difícil mesmo é domar as palavras na hora em que elas se fazem mais importantes que todo o resto.
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