sábado, 17 de janeiro de 2009

História da Guitarra - Folk/Rock Music - n° 1

Faz tempo que não postava sobre música... e foi totalmente involuntário. No começo do blog, pensei em não fazer nenhum post específico sobre guitarras; mas umas horas de papo com meu velho camarada Marcio me convenceram de postar isso aqui - não liguem para a megalomania do título - eu sou palhaço, sempre!!! Risos... pena que ninguém vai ler, porque ficou grande paca:

Um dos grandes fascínios instantâneos que a guitarra me proporcionou veio do então guitarrista do The Byrds, Clarence J. White. Sempre gostei muito do The Byrds, desde sua primeira fase, comandada pela maravilhosa Rickenbacker de 12 cordas de Roger McGuinn, e pela voz de David Crosby, que depois se juntaria a Graham Nash e Stephen Stills para formar o lendário Crosby, Stills & Nash - que no segundo disco já teria mais um sobrenome incluído - o de ninguém menos que Neil Young. Na segunda fase do The Byrds, muito embora as 12 cordas da guitarra de McGuinn ainda fizessem bonito, era Clarence White que moldava agora o som da banda, com sua Telecaster e suas frases de pedal steel. Eu já tocava guitarra há algum tempo, e ficava abismado com a impossibilidade de executar suas frases. Era impressionante como soavam exatamente como um pedal steel.

Só muito tempo depois fui descobrir o segredo de Clarence: tratava-se do "B-Bender", ou "string-bender". Uma invenção do multi-instrumentista, luthier e mecânico de motocicletas Gene Parsons. Parsons ainda instala B-Benders por encomenda, cobrando aproximadamente 900 dólares para isso, em sua oficina em Caspar, Califórnia. O sistema é tão funcional e bem desenvolvido que a Fender, uma das maiores, senão a maior fábrica de guitarras do mundo, utiliza o sistema Parsons-Green quando vai instalar o B-Bender em suas guitarras.

Parsons inventou uma maneira de fazer a segunda corda da guitarra ser esticada, característica alcançada pelo uso dos pedais do pedal steel: a variação de até um tom acima da nota tocada. O sistema funciona da seguinte maneira: o pino onde a correia (aquela faixa de couro onde "penduramos" a guitarra, para tocarmos de pé) fica presa é móvel. Você força a guitarra para baixo, e a correia puxa o pino, que vai ativar um sistema de molas, que por sua vez estica a segunda corda. Realmente é um pouco incômodo, pois obriga o guitarrista a não se mover muito. Um movimento do ombro onde está repousada a correia para cima pode puxar o pino, e fazer o B-Bender funcionar numa hora errada... péssimo. É difícil explicar essa geringonça com palavras, então segue aí uma foto de uma Fender Telecaster alterada para receber o B-Bender, vista pela frente e por trás.

Já tentei tocar numa guitarra com o B-Bender: é outro instrumento. Teria que reaprender a tocar, com certeza. Qualquer movimento já faz a segunda corda sofrer um pouco da ação do sistema, e é difícil controlar o quanto você puxa para obter um som certinho, sem semitonar a nota. Depende de muita prática. Mas o efeito, quando bem utilizado, é sensacional: realmente a guitarra soa como um pedal steel. Por exemplo, aqui nessa frase você percebe isso com clareza. Esse outro, utilizando harmônicos, dá um resultado muito interessante também. Você pode ouvir vários outros licks usando o B-Bender aqui.

Clarence White atinge seu auge no arrebatador disco "Sweetheart Of The Rodeo", com vários solos de B-Bender sensacionais, em músicas como "The Christian Life" e "One Hundred Years From Now". Um outro grande exemplo é "You Ain't Going Nowhere" de Bob Dylan. Essa música até tem uma história curiosa: Roger McGuinn erra a letra em "pick up your money / and pack up your tent / you ain't going nowhere" - ele canta "pack up your money / pull up your tent". A sarcástica resposta de Bob Dylan veio numa regravação da música: "pack up your money / pull up your tent / McGuinn, you ain't going nowhere!"
Uma banda que também faz ótimo uso de B-Benders é o Hellecasters. Som mais moderno, guitarras com mais efeitos. São três guitarristas: Will Ray, John Jorg e o classudo Jerry Donahue. O mais impressionante desse grupo é a perfeição do tempo: os três tocam simultaneamente quase todos os solos - e assustam pela precisão absoluta desse "simultaneamente". Técnica extrema - às vezes fica faltando um pouquinho de feeling, alma mesmo - chega a beirar a farofa. Mas é muito bom, principalmente em músicas como "Axe To Grind", "Mad Cows At Ease" e a ótima versão do tema de "Inspector Gadget", o Inspetor Bugiganga - lembram dele? Risos...
É bom lembrar que tudo isso nasceu de Chet Atkins, o pai desse tipo de guitarra. Com suas guitarras semi-acústicas e pegada mais "jazzy", tocando à frente de sua big band, Chet Atkins, o "Mister Guitar", foi o criador da grande maioria dos fraseados usados pelos guitarristas de country-rock, como os Hellecasters, trazendo muita coisa do banjo para a guitarra. Você pode ver um pequeno vídeo de Chet em 1958. Outros guitarristas que também beberam da fonte de Atkins foram Albert Lee, que tocou muitos anos com Eric Clapton, e Mark Knopfler, que demonstra essa influência mais claramente no primeiro (e, por sinal, o melhor) álbum do Dire Straits, de 1978, em músicas como "Southbound Again" e "Setting Me Up".

A situação é bem parecida: lá existe Clarence White e Chet Atkins, mas quem faz sucesso é Shania Twain; aqui, existe Quinteto Violado, Ivan Vilela, Helena Meirelles... e quem faz sucesso é Chitãozinho, Xororó, Daniel, Zezé Di Camargo, Luciano e outras peças. Fazer o quê, né? Bola pra frente. Deixemos de lado o famigerado "cáuntrim" e vamos ouvir o velho e bom folk. Deixemos de lado o "sertanojo", e vamos ouvir música caipira. Sozinhos, mas satisfeitos. E sem fazer alarde por isso. Pra quê?

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